Reconstruir a vida e a sociedade: 11 de julho, dia de São Bento, padroeiro da Europa

1. Dia 11 de Julho recordamos a memória de São Bento (480-543), que muito enriqueceu a Europa e foi declarado por São Paulo VI, em 1964, como seu padroeiro principal. Foi fundador dos mosteiros beneditinos. Numa altura em que desmoronava o império romano e as instituições que seguravam a sociedade, São Bento criou uma regra de vida assente em duas bases “ora et labora” (reza e trabalha) que, num tempo de vazio civilizacional, muito contribuiu para o desenvolvimento da cultura europeia. Admirada ainda hoje pelo equilíbrio que estabelece entre trabalho, descanso e vida espiritual, esta Regra fez dos mosteiros beneditinos focos de cultura em sentido amplo: da vida espiritual, dos terrenos agrícolas, das bibliotecas, escolas e oficinas de arte, da hospitalidade, da ajuda aos necessitados, promovendo assim valores humanos e cristãos, como a vida fraterna, a solidariedade, a necessidade de um programa de vida e muitos outros. Este breve e despretensioso apontamento sobre São Bento ajuda a entender a mensagem deste domingo (XV 😎. No texto do evangelho ((Mc 6, 7-13), São Marcos narra o envio dos apóstolos a continuar a missão de Jesus: anunciar e tornar presente o reino de Deus. Manda-os dois a dois, em equipa, a levar a todo o mundo a libertação do mal, a cura das doenças e recomenda-lhes que sejam desprendidos dos bens do mundo, como Ele, e chamem cada pessoa à conversão (renovação) como fermento da transformação do mundo.
2. Notamos assim que a fé é o fermento de um mundo renovado. Na primeira leitura, Amós, profeta do século VIII antes de Cristo, corajoso combatente contra as injustiças sociais, declara que deixou a sua vida sossegada de agricultor e pastor, para ir pregar a justiça ao santuário real de Betel, denunciando a exploração dos poderosos e defendendo a dignidade e direitos dos pobres. Amasias, sacerdote importante desse santuário, manda-o embora observando-lhe que que não tinha nível para pregar ali. Mas Amós respondeu que estava a cumprir uma missão recebida de Deus e não por iniciativa pessoal. Hoje somos nós, cristãos, que devemos dar continuidade à missão de Jesus. E o mundo precisa de conhecer e viver a luz do evangelho. Um mundo sem fé é um mundo sem esperança, sem orientação, sem humanismo, sem vida, como notamos em muitos sintomas da nossa civilização. Como no tempo de São Bento precisamos de reconstruir o mundo abalado pela crise da pandemia.
3. São Bento concretizou, na “regra de vida”, o evangelho para a sua época. Hoje quais as grandes prioridades da missão da Igreja? Serão ainda atuais as de São Bento? Um grande teólogo do nosso tempo, (Rahner), afirmou que o cristão do futuro ou será místico ou não será (cristão). Mas uma “mística de olhos abertos”, atenta à realidade e comprometida com a sua transformação, como esclareceu outro grande teólogo (Metz). Ou seja, uma espiritualidade com pés na terra, empenhada, portanto, na reconstrução das pessoas e do mundo. Por seu lado, o Papa Francisco tem insistido na educação para o sentido do bem comum, do cuidado pelo meio ambiente, da vivência da fraternidade (“Todos irmãos”). Senhor Jesus ilumina-nos para redescobrirmos o tesouro da Tua Boa Nova e colaborarmos com alegria na sua difusão.
D. Manuel Pelino * Bispo emérito de Santarém