O Concílio Vaticano II recuperou o papel dos leigos na Igreja. Deixaram de ser a massa amorfa dos cristãos que se submetiam às ordens da hierarquia e passaram a ser considerados corresponsáveis na tarefa da evangelização.
Pela sua presença em certos contextos – como o social, o educativo, o laboral, a política ou a cultura – reconheceu-se que o seu apostolado poderá ser muito mais eficaz do que o dos padres ou o dos religiosos. Desde o Concílio têm surgido novos movimentos, associações de fiéis e novas comunidades que procuram dar resposta aos desafios suscitados pelos meios que os leigos frequentam. Habitualmente seguem o carisma de um fundador ou fundadora, promovendo novas formas de estar e de atuar na Igreja e no Mundo.
Na passada quinta-feira, em Roma, o Papa Francisco reuniu-se com responsáveis destes novos movimentos. Eles são para o Papa “um sinal claro da vitalidade da Igreja”, bem como “uma força missionária e uma presença profética” que garante “esperança para o futuro”. O Papa agradeceu-lhes o contributo que têm dado pela sua presença no Mundo, sobretudo nestes últimos anos marcados pela pandemia, nos quais muitos movimentos estiveram na linha da frente do apoio às vítimas e aos mais pobres.
O Papa aproveitou a ocasião para deixar esclarecimentos sobre um decreto do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, publicado a 11 de junho deste ano. O decreto procura regular a forma como essas associações são governadas. Veio impedir que, com exceção dos fundadores, os dirigentes se eternizem nos cargos, podendo apenas cumprir dois mandatos consecutivos de cinco anos.
O Papa não esqueceu algumas novas comunidades eclesiais que se afastaram do seu carisma fundacional, que se perverteram e que, por isso, tiveram de ser encerradas. O Papa identificou o “abuso do poder” como a génese dessas perversões.
Da mesma forma que a sociedade civil foi descobrindo as virtualidades da limitação dos mandatos, também a Igreja se está a abrir agora a essa realidade. São cada vez menos os cargos vitalícios. Para salvaguardar o bem da Igreja, até o Papa pode resignar, como fez Bento XVI.

In JN 20.09.2021