Que há muitas pessoas que se aproximam do Papa Francisco por conveniência isso a gente não pode negar. Aliás, todo pontífice teve que lidar com os falsos apoiadores. A cúria romana em si é um antro de carreiristas. Portanto, não seria novidade apontarmos que dentro desse ambiente, repleto de “vícios da corte”, um jogo de intrigas e disputas ora se manifeste de maneira bastante explícita, ora de maneira velada.

No pontificado de Bento XVI, por exemplo, citamos o caso do cardeal Bertone. No de Francisco, por sua vez, o de Georg Gänswein, ex-secretário pessoal de Papa Ratzinger, e do cardeal australiano Georg Pell, que até à sua morte, ao menos publicamente, nunca havia se oposto abertamente ao pontífice argentino.
Que Francisco não é bem visto por muitos grupos da Cúria Romana, isso a gente já sabe. A questão está em analisar quem realmente está do lado dele e até que ponto existe uma adesão sincera ao seu projeto de reforma. Ou seja, a questão agora está em checar por onde andam os inimigos que dão palmadinha nas costas do Papa. E há muitos desses, que inclusivé ocupam cargos-chave dentro da cúria.
As próprias nomeações de padres para a Secretaria de Estado que, no passado, eram abertamente contrários à linha de governo do papa atual, impressionam.
Nesse sentido, não entendemos se é uma estratégia de Francisco para que eles estejam sob a sua vigilância ou se, de fato, o pontífice argentino esteja já na fase de delegar algumas pessoas para se encarregarem dessas nomeações.
Sabemos, por exemplo, que, quando o assunto é América Latina, é o cardeal Óscar Rodríguez Maradiaga, de Honduras, quem acaba exercendo um papel preponderante na hora de decidir quais latino-americanos são dignos de integrar o grupo de colaboradores do Papa em Roma.
A solidão do Papa Francisco
Agora sim, sem dúvida, podemos falar de uma solidão vivida pelo Papa Francisco. As resistências à sua reforma, nos últimos anos, só se intensificaram. Além disso, muitos daqueles sobre os quais ele depositou uma certa confiança acabaram abandonando o barco. Uns por não conseguirem lidar com as disputas internas; outros por estarem apegados a um modelo de igreja que não corresponde ao “poliedro” que o Papa Francisco propõe.
Isso faz com que as cartas jogadas no próximo conclave ainda sejam incertas, muito embora, aparentemente, o grupo de cardeais pró-Francisco seja expressivo. O que podemos esperar, nos próximos anos, é uma oposição silenciosa, mas bastante consolidada, que fará de tudo para apagar o legado de Francisco. É esperar para ver.
Mirticeli Medeiros, in domtotal.com
*Mirticeli Medeiros é jornalista e mestre em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Desde 2009, cobre o Vaticano para meios de comunicação no Brasil e na Itália e é colunista do Dom Total, onde publica às sextas-feiras.