Anualmente, a 5 de outubro é assinalado o dia do professor. É uma das mais nobres e antigas profissões do mundo. A arte de ensinar acumulou uma experiência de anos que ainda hoje ecoa na ciência e mestria do ensino. Quem não se lembra de ouvir falar da transmissão do conhecimento pela oralidade, do mestre e do discípulo na Grécia e Roma Antigas ou ainda as escolas medievais nos mosteiros europeus, sem esquecer um dos maiores contributos da igreja católica ao mundo civil, as universidades?
Se durante séculos o serviço educativo foi valorizado e seguiu uma trajetória de ascensão, na atualidade a realidade é outra. Escasseiam professores nas escolas e poucos são os jovens que apostam na carreira docente. Os fatores são múltiplos e encerram um conjunto de varáveis, mas podemos apontar a breve trecho a instabilidade e vínculo laboral ou ainda a pouco atrativa carreira, mas também a indiferença demostrada sociedade civil ao longo de anos. Se há algumas décadas atrás a figura do professor era uma das mais respeitadas na sociedade, hoje, fruto da época de escassez de professores nos anos 80 e consequente recrutamento sem grande critério e preocupação com a qualidade, a “cotação de mercado” dos docentes não goza dos melhores índices.
Se aprendermos com a história, percebemos que atravessamos um tempo de charneira para o sistema educativo português. Será necessário a breve tempo recrutar uma grande quantidade de recursos humanos. Temos assim a oportunidade de criar um sistema educativo alicerçado em bons quadros e que responda aos desafios do século XXI. Países referência em educação, como a Finlândia, desenharam já uma estratégia educativa, que vale a pena pensar sobre ela. Para além de todas as medidas ligadas à flexibilização do currículo, a autonomia das escolas ou ainda a gestão curricular, foram também pensadas medidas para os recursos humanos. Os cursos de educação tem nota mínima de ingresso de 16 valores e os professores tem tempo para atividades culturais, como a leitura, o estudo, as artes, procurando assim criar e manter um corpo docente culto e atualizado. Por cá, apesar dos notórios esforços nas medidas ligadas diretamente ao currículo e aos alunos, esquecemos o trabalho a desenvolver junto dos professores.
Perante os desafios que o século XXI nos coloca enquanto indivíduos e sociedade, as competências docentes tem de ser repensadas e porque não pensar e criar um perfil do rofessor à saída da formação inicial? Como afirma Régis Debray em 2020 na sua obra France laïque, “Um professor não ensina. Ele educa, de acordo com o significado original em latim de “educar”, educere, tirar um filho de sua casa, extraí-lo de seu nicho nativo para criá-lo à condição de cidadão esclarecido, capaz de pensar por si mesmo e instruído sobre seus direitos e deveres”. Isto implica que um docente deve ter para além da sua competência técnica e pedagógica, um perfil humano capaz de conduzir os alunos a ir mais além das matérias prescritas, favorecendo um complexo de crescimento da pessoa humana na sua totalidade. Esta dimensão humana do ensino e da aprendizagem não pode ser substituída por nenhuma “novidade tecnológica” ou algorítmica. A experiência do ensino a distância durante os confinamentos devido à COVID-19 mostrou o papel indispensável e insubstituível do professor na construção do conhecimento e o falhanço da técnica como meio exclusivo de ensino. Como afirma José Pacheco “A aprendizagem é antropofágica. Não se aprende o que o outro diz, apreendemos o outro. Um professor não ensina aquilo que diz, transmite aquilo que é”, pelo que a dimensão humana é indissociável da aprendizagem e, por isso, há que cuidar também do perfil humano dos professores. Neste contexto, a etimologia da palavra professor, como aquele que professa, indicia por si mesma a necessidade do professor dar testemunho para além da mera transmissão de conhecimentos.
