Lemos, gostámos e… recomendámos: Livros para crianças

O Religiolook apresenta a sua nova rubrica sobre novos livros e sugestões de leitura para crianças. A rubrica é da autoria d’A Casa do João.

 

NIMBUS E O ENIGMA DA MÚSICA DESAPARECIDA

Ana Luísa Pleno Rajão, a autora desta história, ilustrada por Gabriela Sotto Mayor adverte que esta é uma história completamente ficcionada, mas com apontamentos reais. O Festival Internacional de Música de Marvão acontece todos os anos; contudo, nunca esteve em risco de não se realizar, por terem roubado a Música. A Casa-da-Barra-Amarela, a Casa dos Gatos, dos inúmeros gatos – de entre eles, o Vaquinho (que, malogradamente, morreu atropelado), o Lince e a Valentina – e, claro está, o belo catavento da bruxa de ferro negro, estão lá, à nossa espera.

Sendo Marvão uma vila muralhada, a torre de menagem e o pátio do castelo que acolhe, efetivamente, a Gala de Encerramento dos Festivais existem e estão impecavelmente conservados. Além de uma flora riquíssima, a águia-de-Bonelli é uma das muitas espécies da fauna existente no Parque Natural da Serra de S. Mamede e foi escolhida para seu símbolo. Daí, ter sido eleita por mim; mas, antes, pela bruxa do catavento de ferro negro.

A descrição maldosa que me permiti fazer desta bruxa – que tentei suavizar o impacto da leitura com o repentismo d’A Bruxa Violeta é proporcional à perfídia que praticou e ao seu péssimo caráter. À consideração do leitor fica a crença na existência ou não de bruxas. Pero que las hay, hay, nem que seja nesta história…

O nome de código SAT é ficcionado tal como a Organização cujo nome é uma homenagem ao povo espanhol, país onde nasceu Nimbus, o herói, e que acho que mais os caracteriza, um e outro – uma permanente fiesta.

 

Ana Luísa Pleno Rajão (2021). Nimbus e o Enigma da Música Desaparecida. (Ilustrações de Gabriela Sotto Mayor). Porto: Trinta-por-uma-linha.

 

BRUXAS DA SERRA

Com este livro, Margarida Rocha pretende suscitar a curiosidade e o interesse pela literatura popular, de tradição oral, promover a criatividade, o imaginário infantil, a reflexão sobre ideias e preconceitos criados, criar cenários de leitura que ajudem a desconstruir tabus e a melhor compreender as nossas tradições pagãs, de origem celta e diversificar a temática, hoje muito dominada pela versão Disney que, na minha opinião, pode ser redutora.

Hoje, pode-se discutir a atualidade do tema, pois quase todos negam acreditar em bruxas. Mas acreditar no invisível, no imaginário, no maravilhoso, no transcendental e no místico não será indispensável ao crescimento e ao desenvolvimento das crianças?

Alimentamos a crença no Pai Natal, na fada dos dentes, em Deus, Santos, duendes, elfos, feiticeiros, dragões, unicórnios, cavalos alados e em minotauros… Por que não falar também de bruxas? As bruxas são criaturas fabulosas, lendárias, fascinantes, capazes de feitos inimagináveis, símbolos de liberdade plena e de domínio da natureza. As crianças, e os adultos como eu, adoram histórias de bruxas!

Estas Bruxas da Serra são um desafio aos leitores, a que também eles as procurem nas montanhas, nos vales e nos rios, as encontrem e dialoguem com elas, em silêncio, observando e interpretando os seus sinais confundidos com os da natureza.

As ilustrações de Carla Nazareth captam a alma e a essência destas criaturas maravilhosas, majestosamente enquadradas na “eira das bruxas”.

Margarida Rocha (2021). Bruxas da Serra. (Ilustrações de Carla Nazareth). Porto: Trinta-por-uma-linha.

 

CHUVISCA E OS GUARDIÕES DAS SEMENTES NATIVAS

Este livro, escrito por Margarida Fonseca Santos e ilustrado por Carla Nazareth, é uma viagem mágica pelo mundo das sementes e das tradições.

Francisco e Teresa partilham as preocupações de Chuvisca, a nuvem das sementes e por isso vão à procura de quem os ensine a recuperar os saberes antigos para salvar as sementes em perigo.

Iniciam, assim, uma aventura que os leva a descobrir, de forma lúdica, a necessidade de preservar as sementes nativas, o valor da alimentação saudável e das relações intergeracionais, além de imensas tradições ligadas ao mundo rural, a diversidade de profissões e de muitas palavras novas e expressões idiomáticas.

Curioso é ainda o final aberto desta história, sendo entregue aos leitores uma coisa importante a fazer –  «dar um nome ao burrinho-sem-nome» – em forma de pergunta-desafio: «Não querem ajudá-los a escolher?»

Apesar do livro ser já de 2018, recomendamos a sua leitura, porque, em 2021, celebra-se o Ano Internacional das Frutas e Vegetais (declarado pela FAO – organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura).

Resta dizer que o resultado da venda deste livro reverte para projetos de educação e sensibilização ambiental da associação Azimute.

 

Margarida Fonseca Santos (2018). Chuvisca e os Guardiões das Sementes Nativas. (Ilustrações de Carla Nazareth). Lisboa: Sementes com vida.

 

A GAVETA MÁGICA

A Gaveta Mágica é o mais recente livro de António Mota, juntando-se a mais de oito dezenas de histórias para crianças e jovens já publicadas, desde 1979, ano da sua estreia literária.

Quem, durante a pandemia, acompanhou os posts do Facebook do escritor, já conhece o Santiago e as mensagens do avô ao neto. Porém, desta vez, a personagem é a avó que gosta de contar histórias, mas cuja cabeça fica subitamente vazia, sinal de que algo se passa. Mas o quê?

Quando isso aconteceu à avó do Santiago, o menino ficou muito triste. Também não era para menos! Ele gostava tanto das histórias que a avó costumava contar-lhe todas as noites, ao adormecer…

Mas o que o Santiago também percebeu foi que a avó tinha ficado tão ou mais triste que o neto, para além de preocupada e confusa.

Foi então que o Santiago abriu a sua própria gaveta mágica das histórias e surpreendeu tudo e todos com a sua imaginação!

Um conto sublime, sobre o esquecimento proporcionado pelo Alzheimer e sobre a maneira criativa, afetiva e efetiva de resolver o problema, pela inversão geracional de papéis.

Confrontado com o problema da avó, é o neto que “recupera” as histórias que a avó lhe contava para lhe “reavivar” a memória e mostrar como é mágica a gaveta das histórias!

Um livro poderoso com uma mensagem fantástica!

 

António Mota (2021). A Gaveta Mágica. (Ilustrações de Cátia Vidinhas). Lisboa: Leya/Asa.

 

Colaboração

A Casa do João

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