Gratidão na tragédia – uma história de sucesso

História de gratidão no meio da tragédia em que se transformou a Ucrânia. Por um lugar sem guerra. Crónica de Paulo Aido

Uma mulher e quatro crianças arriscaram uma viagem difícil de mais de 500 km no meio da guerra, em busca de um lugar onde não escutassem os sons aterradores dos rebentamentos das bombas. Esta história, com final feliz, é a prova de que o abraço solidário da Igreja e dos benfeitores da Fundação AIS não tem fim e que há sempre alguém pronto a acolher os que mais precisam de ajuda.

Quando se fez à estrada, Yulga não pensou nos riscos, nas bombas, não pensou em mais nada. A única preocupação era sair dali o mais depressa possível. Dali, de Brovary. A pequena cidade, a poucos quilómetros de Kiev, foi sacudida, logo nos primeiros dias de guerra, pelas explosões de mísseis.

Ainda hoje, e já passaram várias semanas, Yulga fica aterrada quando pensa nessas primeiras vítimas, nas primeiras sete pessoas que morreram, nos primeiros feridos. Eram todos vizinhos. Yulga percebeu, logo nas primeiras horas do início da guerra, que ninguém estaria em segurança em lugar algum. Yulga assustou-se, mas, acima de tudo, ficou com receio por causa das crianças, das duas filhas e dos dois sobrinhos que estavam à sua guarda. Tanto o irmão como a cunhada estão alistados nas Forças Armadas.

Logo nesse primeiro dia de guerra, decidiram todos que o melhor era tirar as crianças dali. Yulga falou com o irmão e foi para a aldeia da família, a terra dos pais, a cerca de 20 km de Brovary. Mas a aldeia começou a ficar também ao alcance dos canhões. Yulga está sentada juntamente com as filhas, Sofiya e Anastasiia, e os sobrinhos, Iva e Demian. Eles são ainda crianças. A mais nova tem apenas 6 anos e a mais velha 13. Yulga está a gravar uma mensagem através do telemóvel. É um pequeno filme a agradecer toda a ajuda que recebeu. É uma forma de retribuir o apoio que teve nos dias mais assustadores da sua vida.

Uma cama e um quarto

Yulga está num mosteiro em Kamyanets-Polilskiy. Agora está mais tranquila, apesar de não conseguir esconder o medo que sentiu até chegar ali, àquele pequeno lugar de paz. Yulga está a contar a sua história. Quando a aldeia parecia que ia ser engolida pela artilharia dos russos, ela decidiu, com o acordo do irmão e da cunhada, em fazer-se de novo à estrada.

“Pedi conselho ao sacerdote da minha paróquia, o Padre Roman Laba, que me recomendou o cuidado do Padre Yustyn, que estava naquela altura em Kamianets-Podilskyi.” Não era fácil fazer aquela viagem para perto das fronteiras com a Moldávia e a Roménia. Não só pelos cerca de 500 km de distância, mas porque havia sempre o receio de algum ataque, de algum míssil que pudesse cair, de algum incidente no percurso. Viajar com quatro crianças num país em guerra não é seguramente um passeio. Mas não havia alternativa.

“Decidi ir ter com o Padre Yustyn e fomos muito bem acolhidos. Quando chegámos a Kamianets-Podilskyi, havia camas e um tecto para as crianças.” É impressionante este simples relato. Depois de uma viagem difícil, com as crianças cansadas e assustadas, Yulga destaca o conforto de uma simples cama num qualquer quarto ali no mosteiro.

Era mais do que o repouso. Era a certeza de que o pior já tinha passado. “Aqui não ouvíamos tiros nem explosões”, diz.

“O Padre Yustyn deu-nos tudo: comida quente, tecto, camas, e até canetas e cadernos para que os meus filhos pudessem continuar a estudar. Estamos muito agradecidos ao Padre Yustyn e a todos os benfeitores que nos proporcionam uma vida digna, a mim e aos meus filhos…”

Esta é uma história com final feliz e é a prova também de que o abraço solidário dos benfeitores da Fundação AIS não tem fim e há sempre alguém pronto a acolher os que mais precisam de ajuda. Até ali, num simples mosteiro quase na fronteira da Ucrânia com a Moldávia e a Roménia.

Por Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

 

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