É a “hora” de pensar, sentir e caminhar sinodal

[Já estamos em ritmo sinodal. É a “hora” dos fiéis das nossas comunidades passarem das palavras/intenções às propostas/ações. Todos somos Igreja e todos contamos em Igreja. Importa descruzar os braços e dar asas à aventura de (re)construir Igreja. O mote foi dado pelo Papa: encontrar, escutar, discernir. Deixo, em resumo, o que nos pode/deve desafiar, desinstalar e desacomodar desde já…]

«Ao abrir este percurso sinodal, comecemos todos – Papa, bispos, sacerdotes, religiosas e religiosos, irmãs e irmãos leigos – por nos interrogar: nós, comunidade cristã, encarnamos o estilo de Deus, que caminha na história e partilha as vicissitudes da humanidade?», disse o Papa na Eucaristia do passado domingo, ao inaugurar o processo sinodal, que decorre até 2023. Francisco precisou que o Sínodo implica “caminhar pela mesma estrada, em conjunto”: «Permitimos que as pessoas se expressem, caminhem na fé – mesmo se têm percursos de vida difíceis -, contribuam para a vida da comunidade sem serem estorvadas, rejeitadas ou julgadas?».

O Papa convidou os católicos a “dar espaço à oração, à adoração, àquilo que o Espírito quer dizer à Igreja”, deixando-se “tocar pelas perguntas das irmãs e dos irmãos”: «Jesus chama-nos a esvaziar-nos, a libertar-nos daquilo que é mundano e também dos nossos fechamentos e dos nossos modelos pastorais repetitivos, a interrogar-nos sobre aquilo que Deus nos quer dizer neste tempo e sobre a direção para onde Ele nos quer conduzir».

No sentido de refletir e partilhar as experiências e expectativas dos cristãos, o “documento preparatório” do Sínodo indica algumas pistas a valorar:

(1) Companheiros de viagem. Na Igreja e na sociedade, estamos no mesmo caminho, lado a lado. Na vossa Igreja, quem são aqueles que “caminham juntos”? Quando dizemos “a nossa Igreja”, quem é que faz parte dela? Quem nos pede para caminhar juntos? Quem são os companheiros de viagem, inclusive fora do perímetro eclesial? Que pessoas ou grupos são deixados à margem?

(2) Ouvir. A escuta é o primeiro passo, mas requer que a mente e o coração estejam abertos, sem preconceitos. Com quem está a nossa Igreja “em dívida de escuta”? Como são ouvidos os Leigos, de modo particular os jovens e mulheres? Que espaço ocupa a voz das minorias, dos descartados e excluídos? Conseguimos identificar preconceitos e estereótipos que impedem a nossa escuta? Como ouvimos o contexto social e cultural em que vivemos?

(3) Tomar a palavra. Todos estão convidados a falar com coragem e parrésia, ou seja, integrando liberdade, verdade e caridade. Como promovemos, no seio da comunidade e dos seus organismos, um estilo comunicativo livre e autêntico, sem ambiguidades e oportunismos? E em relação à sociedade de que fazemos parte? Quando e como conseguimos dizer o que é deveras importante para nós?

(4) Celebrar. “Caminhar juntos” só é possível se nos basearmos na escuta comunitária da Palavra e na celebração da Eucaristia. De que modo a oração e a celebração litúrgica inspiram e orientam nosso “caminhar juntos”? Como inspiram as decisões importantes? Como promovemos a participação ativa de todos os Fiéis na liturgia e o exercício da função de santificar? Que espaço é reservado ao exercício dos ministérios do leitorado e do acolitado?

(5) Corresponsáveis na missão. A sinodalidade está ao serviço da missão da Igreja, na qual todos os seus membros são chamados a participar. Dado que somos todos discípulos missionários, de que maneira cada um dos Batizados é convocado para ser protagonista da missão? Como é que a comunidade apoia os seus membros comprometidos num serviço na sociedade (na responsabilidade social e política na investigação científica e no ensino, na promoção da justiça social, na salvaguarda dos direitos humanos e no cuidado da Casa comum, etc.)? Como os ajuda a viver estes compromissos, numa lógica de missão? Como se verifica o discernimento a respeito das escolhas relativas à missão e quem participa?

(6) Dialogar na Igreja e na sociedade. O diálogo é um caminho de perseverança, que inclui também silêncios e sofrimentos, mas é capaz de recolher a experiência das pessoas e dos povos. Quais são os lugares e as modalidades de diálogo no seio da nossa Igreja? Como são enfrentadas as divergências de visão, os conflitos, as dificuldades? Como promovemos a colaboração com as comunidades vizinhas, com e entre as comunidades religiosas no território, com e entre associações e movimentos laicais, etc.? Que experiências de diálogo e de compromisso partilhado promovemos com crentes de outras religiões e com quem não crê? Como é que a Igreja dialoga e aprende com outras instâncias da sociedade: o mundo da política, da economia, da cultura, a sociedade civil, os pobres…?

(7) Autoridade e participação. Uma Igreja sinodal é uma Igreja participativa e corresponsável. Como se identificam os objetivos a perseguir, o caminho para os alcançar e passos a dar? Como se exerce a autoridade no seio da nossa Igreja? Quais são as práticas de trabalho em grupo e de corresponsabilidade? Como se promovem os ministérios laicais e a assunção de responsabilidade por parte dos Fiéis? Como funcionam os organismos de sinodalidade a nível da Igreja? São experiência fecunda?

P. António Magalhães Sousa  *  Braga

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