Dispor-se a ser servo

1.O ensinamento do evangelho de São Marcos (Mc 10, 35-45), deste domingo XXIX, decorre no caminho para Jerusalém. Jesus ensina os discípulos fazendo caminho com eles, colocando-se no meio, fazendo-lhes perguntas, ouvindo-os e abrindo perspetivas diversas daquelas em que se situavam. Notamos no evangelho deste domingo como os discípulos estavam distantes do projeto do Mestre. Que expetativas os moviam, que objetivos tinham em vista? Vemos em Tiago e João que a preocupação deles eram alcançar lugares de primeira importância no reino de Jesus que julgavam um reino à maneira do mundo. Pretendiam estes dois irmãos os primeiros lugares, equivalentes a primeiros ministros: “Concede-nos que na tua na tua glória, nos sentemos um à tua direita, outro à tua esquerda”. Jesus, com paciência, procura esclarecê-los que a Sua glória passa pelo cálice e pelo batismo do sofrimento. É esse caminho que lhes propõe. Os discípulos sonham com o poder, o relevo pessoal, o ser mais do que os outros. Jesus, porém, opta pelo serviço, pela humildade e pela doação: “O Filho do homem não veio para ser servido mas para servir e dar a vida pela redenção de todos”.
2. “Não deve ser assim entre vós”, afirma Jesus. Tornar-se cristão, discípulo de Jesus, é seguir por um caminho diferente do mundo. Todos somos tentados a ter privilégios e a alcançar prestígio. Jesus, porém, ensina o caminho da humildade e do serviço. Dispor-se a servir é tornar-se o último e não o primeiro. Exercer um ministério na Igreja é aprender a servir, a colocar-se no último lugar. Na verdade, ministério vem da palavra “minus”, o menor, o último. Quem se quer impor e dominar, cria divisão, como vemos no grupo dos discípulos em que Tiago e João despertaram a indignação dos outros dez. Ao contrário, a humildade e o serviço despertam confiança e congregam.
3. A Igreja começa neste domingo 17 de Outubro, em todas as dioceses do mundo, um processo sinodal, por convocação do Papa Francisco. É um caminho de escuta recíproca para aprender uns com os outros e caminhar juntos, como um povo conduzido pelo Espírito Santo. Realmente é o Espírito que enriquece todos os membros da Igreja com os seus dons e com o “sentido da fé”. Com a proposta sinodal, o Papa Francisco pretende dar um novo impulso à renovação conciliar da Igreja de modo a tornar todo o povo de Deus participante ativo e responsável na missão. Precisamos de ultrapassar o clericalismo que concentra no clero as responsabilidades eclesiais. De facto, os pastores, no projeto de Jesus, não têm o exclusivo dos dons do Espírito Santo nem o monopólio da evangelização. Devem, portanto, governar o povo de Deus escutando a voz do Espírito Santo através do diálogo e da consulta ao povo de Deus. À maneira de Jesus, precisam também, de se colocar-se no meio dos fiéis, fazendo caminho juntos. É o significado da expressão “Sínodo”. Escutando-nos uns aos outros, colaborando todos, cada um com o seu carisma próprio, aprendendo uns com os outros e apoiando-nos mutuamente, tornaremos a Igreja mais credível e eficaz como sinal e instrumento de unidade, dignidade e fraternidade no mundo.
D. Manuel Pelino * Bispo emérito de Santarém