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RESUMO do DISCURSO DE REGEGENSBURG, 2066
O discurso Fé, Razão e Universidade, citando o pensamento judeu e grego, bem como a teologia protestante e o ateísmo moderno, tratou principalmente do Cristianismo e do que o Papa Bento XVI chama de tendência de “excluir a questão de Deus” da razão.
O Islão é abordado apenas em parte do discurso (três parágrafos). O papa cita fortes críticas emitidas pelo imperador bizantino Manuel II Paleólogo em diálogo com um estudioso persa em 1391 sobre a jihad ; ele avalia que o imperador “se dirige ao seu interlocutor de maneira surpreendentemente abrupta “ e com uma ” dureza bastante surpreendente “ .
Nos três parágrafos, localizados no início do discurso, Bento XVI cita e discute um argumento desenvolvido pelo imperador Manuel II Paleólogo neste diálogo, mas também comentários feitos por Teodore Khoury, que publicou recentemente o diálogo do imperador a que o Soberano Pontífice se referiu.
Bento XVI usa o argumento de Manuel II para descrever uma distinção entre o ponto de vista cristão e o ponto de vista do Islão: segundo o cristão Manuel II, “não agir segundo a razão é contrário à natureza de Deus”, enquanto para a doutrina muçulmana, como Khoury explica, “Deus é absolutamente transcendente. A sua vontade não está ligada a nenhuma das nossas categorias, mesmo a do razoável” _________________________________________________________________________________________
Vergonha imensa do escândalo sexual
O escândalo de décadas de abuso sexual em massa acobertado de menores de idade por sacerdotes foi uma sombra sobre o papado de Bento XVI. Em diversos países, como Irlanda, Estados Unidos, Austrália e Bélgica, Espanha, Portugal, a partir de 2010 também na Alemanha, vieram a público cada vez mais casos de violência sexual na Igreja.
Críticos condenaram a instituição católica por não reagir com a rapidez necessária, simplesmente transferindo de paróquia os agressores, tentando enconbrir os seus crimes, e lhe atestaram falta de vontade para abrir processos civis.
Bento XVI se empenhou por uma reavaliação e reparação, procurou o contacto com as vítimas, encontrando-as durante suas viagens, sempre à portas fechada. Era palpável o seu abalo com as revelações; ele qualificou os episódios, no geral, como “flagelo” e “um grande sofrimento”.
Em consequência, endureceu as diretrizes para formação de padres. Sob seu sucessor, ficaria ainda mais patente a dimensão do abuso na Igreja, em diversos locais do mundo. Somente em 2019 o papa Francisco convocaria uma reunião de crise global no Vaticano.
O Vati-Leaks
Em 2012 o assim chamado “escândalo dos Vati-Leaks” fez tremer mais ainda as bases da central do poder no Vaticano. Documentos e comunicações internas relacionados ao padre vazaram para a esfera pública, o camareiro papal Paolo Gabriele revelou-se um traidor. Após breve pena de prisão, porém, foi perdoado por Bento XVI.

Contudo, observadores de longa data do papa perceberam quão duramente a traição partindo de seus círculos mais próximos o atingira. A sua decisão de renunciar ao pontificado comoveu e abalou muitos católicos; para além dos meios eclesiásticos, ela causou espanto em todo o mundo.
Sem dúvida, nos últimos meses de mandato era visível o esforço físico do ancião de 85 anos. Afinal de contas, a sua renúncia foi um tributo à responsabilidade do cargo, mas também à própria dignidade pessoal.
A decisão foi corajosa e um atestado de consciência de si próprio, porém causou estranhamento entre muitos fiéis que tinham durante os olhos a eterna imagem do pontífice que serve até a morte.
Parte da congregação mundial não compreendeu que, desse modo, o papa do país da Reforma humanizava e reformava o cargo supremo da Igreja Católica.
O aparato vaticano encenou a sua retirada com imagens portentosas: ao fim de seu último dia de trabalho, Bento XVI partiu num helicóptero branco da Santa Sé para a residência papal Castelgandolfo.
Parecia um espetacular “até nunca mais”. Dois meses mais tarde, contudo, Bento XVI retornou a Roma para ocupar um alojamento num pequeno mosteiro nos Jardins Vaticanos. Em 2014, participou de diversos grandes cultos na Basílica ou na Praça de São Pedro, ocasionalmente visitou seu sucessor.
Algumas de suas declarações causaram sensação: uma entrevista aqui, um discurso ali. Entre 2018 e 2020, a publicação de textos atuais seus causaram celeuma e fricções. Ele interferiu decididamente em debates eclesiásticos atuais, relacionando, por exemplo, o escândalo de violência sexualizada na Igreja a um “relaxamento da moral” na sequência do movimento cultural de 1968.
Oficialmente, ele era papa emérito e um simples sacerdote. Porém não deixou de trajar batina branca, a cor papal. Os mais próximos se dirigiam a ele como “Santo Padre”. Ao lado de Francisco, portanto, Joseph Ratzinger foi um “papa aposentado”: para os teóricos da fé, um grande tema; para a Igreja, uma questão com potencial explosivo.
Algumas das últimas imagens de vídeo divulgadas do religioso bávaro mostram um homem aquebrantado pela idade: caminhar se tornara algo penoso, ele tinha que se apoiar num andarilho; os olhos e a voz pareciam muito fracos.
Ele só voltou uma vez à Alemanha: em 2020, aos 93 anos, visitou Regensburg com uma comitiva surpreendentemente pequena para se despedir do irmão Georg no leito de morte, e para rezar à sepultura de seus pais. Embora de cadeira de rodas, os olhos Bento XVI brilhavam na velha terra natal.
Acusação de ter mentido
Poucos meses antes de seu 95º aniversário, um relatório de juristas sobre como a Arquidiocese de Munique-Freising lidou com casos de abuso sexual causou sensação em todo o mundo.
E o tão citado esplendor da figura de Ratzinger continuou se apagando. Há muito se especulou que durante os anos de Joseph Ratzinger em Munique a arquidiocese havia acolhido um padre da diocese de Essen que havia molestado crianças. Na arquidiocese de Ratzinger, o padre desempenhou trabalho paroquial – e novamente crianças se tornaram suas vítimas. E o relatório viu mais três casos de “má conduta” do então cardeal.
Ratzinger se defendeu de forma abrangente contra as acusações. Mas os especialistas questionaram um ponto-chave de seu relato. Quando Ratzinger então se corrigiu quatro dias depois e teve que admitir que havia estado presente numa importante reunião sobre como lidar com um padre perpetrador, os críticos o confrontaram com a acusação de “mentir”.
Os especialistas enfatizaram criticamente que Ratzinger só confirmou o que podia ser provado. E muitos que leram os comentários de Ratzinger ficaram irritados com a sua visão fria da má conduta sacerdotal contra menores, que estava desatualizada mesmo quando o crime foi cometido, por volta de 1980. Tudo isso se encaixa na imagem de uma Igreja que estava encontrando cada vez mais dificuldade para enfrentar a escala de crimes clericais.