“Bendita sois Vós e bendito é o fruto do vosso ventre”

1.A visitação de Nossa Senhora à sua parente Isabel que ouvimos no evangelho deste domingo, festa da Assunção, é o primeiro gesto de Maria de Nazaré, após o anúncio de que iria ser a Mãe do Filho do Altíssimo e ter conhecimento que a sua parente, já com alguma idade, estava também à espera de ser Mãe. Maria pôs-se logo a caminho, ao encontro de Isabel. Esta mostrou grande alegria pela bênção desta visita e louvou Maria pela sua fé humilde e disponível com palavras que ainda hoje repetimos: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. Em resposta a um agradecimento tão elevado, Maria de Nazaré proclamou um hino de grande riqueza bíblica em que atribui à misericórdia de Deus o dom da maternidade concedido a estas duas Mães, em circunstâncias humanas improváveis. Deus não esquece, afirma Maria, as promessas feitas a Abraão e à sua descendência e realiza obras admiráveis para encher de bens os pobres, elevar a dignidade dos humildes e derrubar os poderosos dos seus tronos, no sentido de estabelecer maior justiça e fraternidade.
2. A visitação tornou-se uma forma habitual de proceder da Mãe de Jesus e nossa Mãe, um atributo que a identifica. Quantas vezes foi ao encontro de Jesus em momentos de provação de Seu Filho? E ao encontro de seus filhos, manifestando-se a mediadores humildes e confiando-lhes mensagens para que as façam chegar a todos? Como, por exemplo, em Fátima ou Lurdes! Nossa Senhora tornou-se uma visitadora celeste empenhada em comunicar-nos os dons espirituais que levou a Isabel e ao Menino que ela trazia no seio: o Espírito Santo fonte de renovação e de alegria; o apreço e louvor pelos dons de Deus que enriquecem a nossa vida; a atenção aos perigos que nos cercam; a proteção e ajuda em nossas necessidades. Em momentos críticos, Maria, nossa Mãe Celeste, visita-nos cumprindo a missão de nos levar Jesus como como luz que ilumina a vida humana e ensinando-nos, com o Seu exemplo, a visitar os que necessitam de apoio, de atenção, de ajuda, comunicando-lhes também a alegria do amor fraterno e da solidariedade. Por isso, façamos nossas as palavras de Isabel: “Bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do Vosso ventre”. Herdámos dos nossos antepassados esta veneração e queremos transmiti-la aos vindouros, pois é um património de grande riqueza para todas as gerações.
3. A designação antiga desta solenidade era de “Dormição de Nossa Senhora”. Em muitas igrejas antigas da Europa encontramos esta representação em baixo relevo: Nossa Senhora, serena no Seu leito de morte. rodeada de todos os apóstolos que, segundo uma lenda antiga, teriam sido chamados para assistir ao passamento da Mãe de Jesus e da Igreja. Assim, no sono derradeiro, rodeada dos seus, fecha os olhos em paz e na firme esperança que acordará na luz esplendorosa do mundo novo da ressurreição onde Seu Filho a aguarda e onde irá encontrar, na glória dos santos, seu esposo José, seus pais Joaquim e Ana e tantos justos que confiaram em Deus e semearam a bondade, a justiça e a fraternidade. Supliquemos-lhe: “Rogai por nós pecadores, agora no meio das tribulações do mundo, e na hora da nossa morte, para que participemos na luz da glória do Vosso Filho. Que os anjos nos levem também ao paraíso, como aconteceu convosco, onde Vós nos aguardais na comunhão dos santos.
D. Manuel Pelino * Bispo emérito de Santarém