Sentir Romano: a Palavra e a Música

Saluti a tutti! Saúdo todos os leitores desta rúbrica intitulada “Sentir Romano: a Palavra e a Música”, com início na Solenidade de Pentecostes do Ano da Graça de 2021. É nosso objectivo fazer deste espaço semanal uma reflexão singela e pessoal sobre a Palavra de Deus de cada domingo, e ao mesmo tempo, propor alguma obra musical que possa ser expressão e eco desta mesma Palavra. Sintonizemos então com a Palavra de Deus e ouçamos boa música.

Celebramos o Pentecostes! Os judeus celebravam a festa “das semanas” sete semanas depois da Páscoa e esta festa era originalmente uma acção de graças pelas colheitas e, com o tempo, a acção de graças pela proclamação da Lei sobre o Sinai, cinquenta dias após a libertação da escravidão do Egipto. O evento do Pentecostes Cristão, narrado em Actos 2, 1-41, tem lugar no contexto dessa festa judaica.

Nos primeiros tempos da Igreja, o Pentecostes era considerado na perspectiva unitária da Páscoa, do qual o quinquagésimo dia constituiu o encerramento. No século VII, o Pentecostes começou a ser celebrado como memorial da descida do Espírito Santo e tornou-se uma festa autónoma com uma oitava desligada da relação unitária e vital com o Mistério Pascal. A Reforma Litúrgica do Concílio Vaticano II aboliu a oitava e restaurou a celebração do Pentecostes no seu significado original.

A antífona de entrada, o Introito da celebração de hoje, é retirada do Livro da Sabedoria (Sab 1, 7) com o seguinte texto: “Spíritus Dómini replévit orbem terrárum, alleluia: et hoc quod cóntinet ómnia sciéntiam habet vocis, allelúia” (O Espírito do Senhor encheu o universo, aleluia; ele que tudo possui, conhece todas as línguas, aleluia).

O introito tem a particularidade de estar no VIII modo gregoriano, e o número 8 na Bíblia tem o significado de um novo começo, da perfeição, do cumprimento, do tempo definitivo, do primeiro dia depois da Criação. O VIII modo acompanha-nos, de facto, nos momentos fundamentais do Ano Litúrgico: O Introito do I Domingo do Advento, “Ad te levavi animam meam”, o do I domingo da Quaresma, “Invocabit me, et ego exaudiam eum”, o “Alleluia” que é solenemente cantado na Vigília Pascal e o Introito da Solenidade de hoje, curiosamente, todos no VIII modo.

Assim, aquela novidade e plenitude que vislumbrámos no início do Ano Litúrgico, no primeiro domingo do Advento, que pregustamos no Natal (também o Introito da Missa da Aurora de Natal “Lux fulgebit hodie super nos” está no VIII modo), que desejávamos no início da Quaresma e celebrámos na Vigília Pascal com o solene canto do “Aleluia“, hoje, na Solenidade de Pentecostes, se cumpre, se realiza.

O Pentecostes é assim o cumprimento da Encarnação, o “momento de entrar em comunhão com a natureza do Verbo, ou seja, de passar da vida natural de antes para a que transcende a existência humana, e não poderíamos chegar a isso senão tornando-nos participantes do Espírito Santo” (do “Comentário sobre o Evangelho de João” de São Cirilo de Alexandria, Bispo [Lib. 10; PG 74, 434]).

A separação de Jesus ocorrida na Ascensão traz-nos o dom do Espírito Santo que recebemos para “conhecer”, para podermos estabelecer lentamente aquela relação pessoal com o Senhor que nos permite verdadeiramente, como aconteceu aos Apóstolos, viver para Ele, viver na Verdade, enfrentar os nossos medos, suportar os nossos fardos, ser, na sua essência, o povo que podemos e devemos ser.

A música em anexo, em Canto Gregoriano, é retirada do Graduale Triplex, publicado em Solesmes, em 1979. A interpretação, ao vivo, é da Cappella Musicale Pontificia “Sistina” na Celebração Papal de 9 de Junho de 2019.

Tenham um bom e santo domingo, uma feliz solenidade de Pentecostes.

P. Bruno Ferreira

 

Introito

Notas biográficas do nosso novo colaborador

Padre Bruno Ferreira, natural de Galegos, concelho de Penafiel, nasceu a 1984. Desde cedo recebeu formação musical e participou na vida paroquial, como cantor, organista e diretor de coro. Terminados os estudos secundários, frequentou o Seminário do Bom Pastor (em Ermesinde) e mais tarde ingressou no Seminário Maior do Porto, onde aprofundou a sua formação. Frequentou o curso de Teologia na Faculdade de Teologia da UCP-Porto e aprofundou a sua formação musical no seminário. Teve canto, coro e direção com o Pe. Agostinho Pedroso, Pe. Dr. António Ferreira dos Santos, e aprofundou o seus estudos em harmonia, composição e órgão com o professor e maestro António Mário Costa. Participou ainda em formações pontuais sobre a música litúrgica com outros professores. Entre os anos de 2007-2010 frequentou e concluiu o Curso Nacional de Música Litúrgica, na vertente de Órgão Litúrgico.

Em Julho de 2010 foi ordenado sacerdote e assumiu trabalho pastoral nas Paróquias de Bougado (São Martinho e Santiago), no Concelho da Trofa, e em 2013 tornou-se o pároco de Bougado (Santiago). Foi diretor de coros paroquiais, do coro vicarial, e assessor vicarial para a Liturgia e Música Litúrgica, promovendo formações e concertos. Pontualmente colabora com o Secretariado Diocesano de Música Litúrgica do Porto, Serviço Nacional de Liturgia e Secretariado Diocesano da Juventude. Desde de 2017 é secretário da Irmandade dos Clérigos com o pelouro da cultura e concertos. Desde de 2019 colabora com a Associação de Música Sacra de Braga. Atualmente, a pedido do seu bispo, frequenta o curso superior de Composição no Pontifício Instituto de Música Sacra, em Roma.

 

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