S. Bartolomeu dos Mártires a DOUTOR DA IGREJA!

Quando andava no Liceu, talvez no 4º ano, “conheci” Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, a partir de extractos que continha a Selecta Literária (o livro de leitura- literatura de Português) da “Vida do Arcebispo” de Frei Luís de Sousa. Talvez uma página desta obra. Mas uma página que me marcou até hoje e me fez admirar imenso este Arcebispo de Braga de quem nunca ouvira falar até essa altura. E fiquei fascinado… Um Arcebispo de Braga, a cavalo de uma mula, no rigor do Inverno transmontano, calcorreava caminhos ínvios à procura de aldeias pobres, negras, analfabetas e ignorantes das “coisas” de Deus! Não levava séquito pomposo nem abundância de víveres. Ia pobre como os pobres que ia visitar e ensinar. Pobremente morreu, partilhando sempre tudo, que era pouco por sua vontade, com quem nada tinha.

Vivia pobremente. E, por exemplo, disse directamente ao Papa que a baixela de prata em que eram servidas as refeições não ficavam bem e logo se comprometeu, e cumpriu, de lhe enviar um serviço de porcelana.

Adolescente, achava espantoso como um Senhor, Arcebispo de Braga, se deslocava assim, vivia assim e dava o exemplo a todos de uma vida austera mais consentânea com a sua condição de cristão. Mas era um intelectual do mais elevado gabarito, tanto quanto a sua humildade.

Ficou-me gravada na memória a figura de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, um lisboeta (baptizado na hoje Basílica dos Mártires) que tinha optado pela vida frugal e desprendida dos dominicanos e que muito contrariado aceita a insistência da Rainha para ser o Arcebispo de Braga.

Os meus leitores, que sabem muito mais do que eu sobre a vida e a obra deste grande Arcebispo de Braga, perdoar-me-ão de aqui exarar alguns dados conhecidos de todos

O Concílio de Trento, grande acontecimento da vida da Igreja, teve, além do Papa, como grande protagonista o “Bracarense”, como era conhecido. A sua obra “Estímulo de Pastores” que escreveu para si, teve um sucesso enorme na altura e no II Concílio do Vaticano, quatrocentos anos depois, foi distribuído a todos os Padres conciliares. Ficou célebre o seu “Catecismo” que os párocos deveriam explicar aos Domingos a todos os fregueses, dada a suma ignorância destes e dos seus paroquianos!

O “Bracarense” (como os actuais e futuros bracarenses se deveriam orgulhar deste epíteto dado ao mais extraordinário Arcebispo de Braga – não refiro os brilhantíssimos Antístites de Braga que deixaram marcas profundas. Dom Frei Bartolomeu dos Mártires atingiu outro patamar de santidade!), foi “canonizado” pelo povo, sobretudo entre os mais pobres da “Viana da Foz do Lima”, finalmente, a Igreja canonizou-o de facto em 10 de Novembro de 2019, pelo Papa Francisco, na Basílica de S. Pedro.

…Mas será preciso divulgar muito mais a vida e o exemplo deste grande Arcebispo de Braga, sobretudo, hoje, em que uma crise profunda abala os fundamentos da sociedade e a que a Igreja não escapa.

São Frei Bartolomeu dos Mártires é exemplo de humildade, de sobriedade, de caridade, de justiça, de tolerância, de sabedoria que não se aloja em mentes egoístas …

Como já escrevi acima, desde a minha adolescência que Dom Frei Bartolomeu dos Mártires me fascina.

Que riqueza hoje praticamente inexplorada é a sua obra escrita!

Que exemplo é a sua vida, a oportunidade do seu saber plasmada em várias (p.e. “Estimulo de Pastores” e “Catecismo”) que ainda hoje são lidas e tidas como referências. Além disso foi o primeiro Padre conciliar a mandar construir um Seminário para a formação do Clero que encontrou profundamente ignorante.

São Frei Bartolomeu dos Mártires merece ser declarado Doutor da Igreja. A sua obra justifica-o. O seu exemplo de vida continua vivo.

Carlos Aguiar Gomes * Professor * Braga

 

 

Notas biográficas:

Nasceu em Lisboa e aí baptizado (na igreja dos Mártires, daí o seu nome como frade dominicano) a 3 de Maio de 1514.

Arcebispo de Braga de 1559 a 1582, tendo oferecido muita resistência em aceitar servir a Igreja como Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas (dignidade que defendeu tenazmente).

Participou com grande actividade e eloquência em 1562 e 1563, respeitado por todos os Padres conciliares e pelo próprio Papa (este, tinha uma grande estima pelo “Bracrense”) no Concílio de Trento.

Percorreu grande parte da sua imensa arquidiocese numa mula.

Faleceu com 76 anos, em 16 de Julho de 1590 no Convento de S. Domingos, Viana do Castelo, que por ele foi mandado construir e onde repousam os seus restos mortais.

 

 

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