Foi neste dia, em 1960, ou seja, há precisamente sessenta anos, que faleceu Erik Peterson, para mim um dos mais brilhantes, e relevantes, teólogos do século XX. Neste 60º aniversário da sua prematura partida deste mundo, saúdo a sua memória e, ao Deus da Vida, o Deus de Jesus Cristo, Sujeito de toda a verdadeira Teologia, agradeço o dom da sua Inteligência, da sua Cultura, e o valor, que hoje permanece não menos atual do que seu próprio tempo, do pensamento histórico-teológico expresso em muitas das suas obras.
Nascido em Hamburgo, na Alemanha, em 1890, Erik Peterson é hoje reconhecido, em não pequena medida devido ao interesse que por ele sempre manteve Joseph Ratzinger, depois Papa Bento XVI, como um dos grandes pensadores teológicos do século passado, sendo que no que me toca o tenho por um daqueles de quem, como teólogo, mais aprendi.
Sobre este notável pensador do mistério de Cristo e da Igreja, filólogo e historiador de exceção, escrevi há nos uma tese intitulada «Kirche und Theologie: Erik Petersons Programm ‘Konkreten Theologie’» (Frankfurt, 1991), o texto com que nos anos noventa do século passado, antes de me dedicar de novo à Filosofia, fechei, ou interrompi, o ciclo da minha formação teológica.
Na Introdução a este meu trabalho, escrevi: «Erik Peterson é um dos teólogos mais surpreendentes do século XX. Ele surpreende-nos, antes de mais, com o facto de a sua obra, apesar de tocar temas e problemas sumamente abrangentes, ser de uma dimensão fascinantemente reduzida. Isso, porém, não impede que ele seja considerado como um dos teólogos mais geniais do nosso tempo. Tal como Karl Barth, o seu nome está intimamente ligado com uma busca orientada no sentido de fazer descer a teologia ao seu elemento próprio. «Às coisas mesmas», foi, sem dúvida, um dos seus lemas mais envolventes.
A sua obra distingue-se por um timbre eminentemente teológico, ao mesmo tempo que nela se revela um Filólogo e um Historiador de profissão. Como pensador, ele foi alguém que soube associar uma atitude profundamente crítica com uma piedade sem disfarce, distinguindo-se, nas palavras de A. Dempf, por uma relação genuína com a Palavra. A sua paixão era explorar até às últimas consequências as grandes palavras da tradição, palavras que acabavam sempre por ocupar um lugar de destaque na sua abordagem simultaneamente religiosa, jurídica e teórica dos problemas.»
O momento mais marcante na vida deste grande teólogo, que começou a sua carreira académica ainda como protestante, foi, por certo, a sua conversão ao Catolicismo, tendo sido recebido na Igreja Católica nas vésperas do Natal de 1930.
Crítico do totalitarismo nazi, viveu em Roma o resto da sua vida, pois foi nesta cidade que constituiu família. Homem de grande inteligência e exemplar humildade na dedicação ao saber, Erik Peterson é, por certo, um dos grandes tesouros que temos na teologia católica, sempre à espera de quem o continue a descobrir na sua extraordinária riqueza e inequívoca profundidade.
Os temas que este teólogo católico, sempre focado tanto na Palavra como na História, são de uma enorme, e fascinante, riqueza. E se já aqui o disse antes, volto a repetir o que antes disse: é tempo de este grande Teólogo ser mais conhecido nos espaços culturais da língua portuguesa. Se pudesse, meteria de imediato mãos à obra.
Erik Peterson, falecido neste dia há precisamente sessenta anos, merece a melhor atenção de quem for capaz de chegar ao mais sério e profundo do seu, ainda hoje para mim, impressionante pensamento. Honro, pois a sua Memória, e peço ao Deus de quem ele tanto e tão rigorosamente escreveu que o tenha no esplendor da Sua Glória.

Por João Vila Chã, in Facebook