Na Sagrada Escritura a imagem do fogo, muitas vezes, define o amor. Deus Se revelou a Moisés como uma Sarça-Ardente que ardia sem se consumir. Jesus diz que trouxe o fogo à terra e só quer que ele se incendeie em todos os corações. O Espírito Santo, que é amor eterno entre o Pai e o Filho, desce em línguas de fogo, no dia de Pentecostes. No livro da Cântico dos Cânticos se afirma que o “amor é como fogo, que a paixão é fogo ardente”. Os discípulos de Emaús disseram um ao outro, que sentiam o coração a arder quando Jesus lhes falava pelo caminho. Todos estes ensinamentos nos fazem perceber que Deus é fogo divino de amor, que quem ama participa desse amor, desse fogo.
Daqui nos nasce a ousadia de afirmar que a Beata Alexandrina foi uma cristã com o coração em fodo, ou seja, em amor a Deus e ao próximo, em caridade que era dedicação, acolhimento, paciência, bondade, atenção aos outros, compaixão com todos, sobretudo com os doentes e os pecadores, que tinha um coração em caridade viva amando a Deus, Jesus e a Mãezinha, amando os muitos milhares de visitantes, sobretudo os que tinham doenças, pedidos graves para depositar no seu coração e nas suas intenções. Naquela cama, paralisada, Alexandrina exercitava a caridade dia e noite. O seu amor a Jesus, o desejo de estar unida a Ele em oração, a ânsia de reparar os pecados que O ofendiam, o desejo de partilhar as dores que Ele sofreu na sua dolorosa paixão, era uma caridade intensa vivida sem cessar.
Mas o amor a Nossa Senhora, a Mãezinha, era outra forma de Alexandrina viver a caridade que enchia seu coração e que transbordava em oração, em louvor, em reparação, em acção de graças, em contínuo Magnificat. E não era vivência de caridade, de amor fecundo e encantador, o modo como se unia a Jesus Eucaristia, como comungava, como vivia centrada em Jesus, seu a paixão, seu Amigo, seu Esposo. Amor intenso, caridade sem limites, pois não negava nada Aquele que lhe dava tudo e Se dava a Si mesmo, na Eucaristia. O coração de Alexandrina ardia em caridade. E daqui, destes diversos amores nascia nela, como mulher, como cristã, com a alma e o coração apaixonados por Deus Pai, por Jesus, por Maria, alimentados pela muita oração, uma caridade eficaz e profunda para com o próximo.
Os testemunhos que podemos ler, acerca da fila de pessoas que aguardavam a vez para poder estar com ela, no quarto onde jazia doente, é um modo de nos apercebermos que seu coração em caridade, acolhia pessoas, dores, orações, pedidos, sofrimentos. E, pela sua união a Jesus, alcançava graças para muitos, até curas, vocações, bens espirituais. A sua atenção aos mais doentes, a sua preocupação pelos pobres e famintos, a sua dedicação pelas famílias, sobretudo as que viviam sem paz e sem amor, era outro modo de Alexandrina viver sua intensa caridade. As esmolas que lhe davam, eram distribuídas pelos que mais necessitavam. A sua oração se transformava e dinamizava em caridade intensa sempre e com todos. Se é verdade que durante anos não saiu da cama e daquele quarto, não é menos verdade que o seu amor, a sua caridade, ia pelo mundo fora rezando, e fazendo bem a todos, pedindo graças para todos.
Os colóquios com Jesus aumentavam o seu desejo de amar, faziam crescer tonalidades da sua caridade, abriam-lhe novos horizontes. Daí que a sua caridade chegava cada vez mais longe e os seus devotos, amigos, visitantes cresciam cada vez mais e também vinham de mais longe. Creio que a missão que Jesus lhe encomendou de alcançar do Papa a Consagração do mundo, da humanidade, a Nossa Senhora, é um acto supremo dessa mesma caridade que veio do Coração de Jesus, passando por Nossa Senhora, abrindo-se à humanidade inteira que necessitava de amor multiplicado em paz, em justiça, em pão para comer, em cura humana e espiritual, em conversão pessoal e familiar, em projetos de mais amor à vida. E Alexandrina, com a ajuda de seu Diretor Espiritual, o Padre Mariana Pinho, conseguiu mover o coração do Papa Pio XII a fazer esse imenso acto de caridade, consagrando a humanidade a Nossa Senhora.
